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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Anatel, Procon, buá!

Eliane Cantanhêde
Da Folha Online


Enfim, o governo resolveu dar um aperto nas companhias de telefonia celular. Vale o esforço, e já estava bem na hora, mas, cá pra nós, trata-se de um apertinho de leve.

A verdade é que as empresas de celular fazem o que bem entendem, e seus funcionários riem na nossa cara.

A Vivo, por exemplo, parou de mandar as contas, de repente, depois de anos, sem nenhuma explicação. Reclamei diversas vezes, "corrigi" o endereço uma, duas, três vezes, sem sucesso. E, quando eu ia buscar a conta na loja, tinha senha, fila e horas de espera, a não ser que eu preferisse pegar uma cópia na maquininha automática... que não especifica as ligações. Ou seja: ou a fila de horas ou pagar no escuro, sem saber o que está pagando. Esquisito, não é?

Depois de meses de brigas, telefonemas, choros, vamos encerrar a conta. O que acontece? Você não consegue encerrar nunca! Demorei uns quatro a cinco meses para conseguir isso: simplesmente cancelar o contrato. Você não consegue cancelar e fica pagando uma multa atrás da outra, porque... não consegue cancelar o contrato!

Da última vez que fui a uma agência, chorei como criança, ao saber que iria esperar mais um mês (e mais uma conta, mais uma multa). Sabe por que eu chorei? A sensação de impotência completa diante do poder. O poder da Vivo.

Apesar disso, minha filha insistiu em manter o celular dela da companhia, no meu nome, alegando que tinha acumulado uns tais pontos por tempo de uso, que lhe dariam direito a isso e aquilo. A contragosto, permiti. Pra quê? Trocaram o plano dela, e o preço da conta duplicou.

Lá estava eu em Paris, trabalhando, quando o telefone toca. Era a minha filha aos prantos. Ela estava na loja da Vivo, desesperada, quase se atracando com os vendedores cínicos. Eram 22h30 no Brasil!

No desespero, ela dizia que iria recorrer à Anatel, ao Procon, ao Juizado de Pequenas Causas, ao raio-que-o-parta. Fui obrigada a desanimá-la.

Ao Juizado eu não cheguei a ir, porque já tinha entregado os pontos, perdido a guerra. Mas recorri umas duas ou três vezes à Anatel, com protocolo e tudo, e a mulher lá nem sequer entendeu a reclamação. Fui ao Procon, passei pela mesma maratona da loja: senha, fila, horas de espera. E o que deu? Nadica de nada. Só perdi meu tempo, meus nervos, minha paciência. Talvez uns aninhos de vida.

E é isso que me preocupa no plano do governo agora, para "enquadrar" as companhias: é que a fiscalização e a responsabilidade serão da Anatel e do Procon. Só rezando a todos os santos!

PS - Colunistas não costumam contar esses dilemas pessoais, mas o faço aqui com uma certeza: a de que estou emprestando um espaço de divulgação e de discussão para lavar a alma de muitos de vocês. Unidos, jamais seremos vencidos! Será?

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.