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domingo, 20 de janeiro de 2008

Mosquito se tornará vítima da picada

Do JB Online

Picadas de mosquito levam milhões de pessoas à morte todos os anos, só que agora o vilão pode se tornar uma das vítimas da sua mordida. Cientistas da Universidade do Arizona, nos EUA, descobriram aspectos do metabolismo do vetor que, se interrompidos, podem provocar a sua morte depois da picada - o que seria uma nova arma para interromper epidemias como a de dengue e febre amarela.

- Nossa meta é tornar o alimento sanguíneo para o mosquito a sua última refeição, de forma que não possa infectar outra pessoa - explicou Roger L. Miesfeld, professor de bioquímica da universidade.

Os pesquisadores descobriram que o Aedes aegypti tem um caminho metabólico complexo, que requer a excreção de amônia tóxica. Agora, procuram uma molécula que seja inofensiva para humanos, mas que interfira nesse processo.

- A fêmea precisa metabolizar e digerir rapidamente o sangue para evitar os efeitos tóxicos da amônia formada como resultado de toda proteína ingerida na refeição sanguínea - explica Miesfeld. - Se ela não se livrar dessa amônia rapidamente, processando o nitrogênio da proteína em ácido úrico e uréia, fica doente, não consegue colocar ovos e morre.

A refeição sanguínea é importante para o desenvolvimento do ovo, mas também é tóxica pela sua grande quantidade. As fêmeas podem ingerir duas vezes o seu peso por refeição, por isso o processamento tem de ser rápido e eficiente. Uma única representante pode pôr centenas de ovos durante a vida e sobreviver por semanas.

Inseticida seletivo

- Estamos tentando descobrir como o mosquito pode comer o sangue e não digeri-lo adequadamente pela remoção rápida da amônia, morrendo. Se conseguirmos identificar uma pequena molécula que especificamente iniba esse processo em mosquitos, e não em outros organismos ou humanos, teremos encontrado um inseticida seletivo para mosquitos que se alimentam de sangue - explica Miesfeld.

Uma vez revelada, a molécula poderia ser desenvolvida em inseticidas e espalhada em lugares onde mosquitos se congregam, como ao redor de grande quantidade de água. O remédio também poderia ser usado em comprimido ou creme. As pessoas poderiam ingeri-lo por um período curto de tempo, como durante a estação de chuvas, para controle de vetor. Depois de algumas estações de estratégia, os níveis do patógeno se tornariam baixos o suficiente para a coexistência pacífica entre mosquitos e homens.

- Este é um sonho alto, mas temos que sonhar assim porque as doenças transmitidas por mosquitos são terríveis e precisamos controlá-las - diz Miesfeld.

Nova forma de combate

O comprimido não seria uma vacina, as pessoas mordidas ficariam infectadas. Entretanto, o mosquito iria ingerir o inseticida junto com o sangue, provocando que ela morra antes de picar outra pessoa. Num mundo onde mosquitos e doenças se tornam cada vez mais resistentes a inseticidas e remédios, encontrar novas formas de combate é essencial.

- Foram dois anos de pesquisa para descobrir tudo isso e estamos começando a estabelecer parcerias com especialistas em seleção de alta qualidade de moléculas para drogas. Provavelmente ainda levará anos para começarmos os testes em locais, como o Brasil - ponderou Miesfeld. - Vamos estabelecer mecanismos para procurar moléculas pequenas que funcionem como inibidores de enzimas específicas do metabolismo do nitrogênio no Aedes aegypti. Dependendo do tipo de molécula e conservação evolutiva, ela pode funcionar também para a espécie Anopheles.

A meta dos cientistas é fazer um controle de vetor só durante epidemias. Os patógeos seriam eliminados pelas populações de mosquitos e humanos numa área específica pela estratégia de controle. Os mosquitos e os homens conviveriam sem os patógenos no ciclo.

- Não queremos eliminar os mosquitos em geral porque haveria um impacto ambiental. Queremos eliminar os patógenos e quebrar o ciclo de reinfecção - explica.

Os cientistas publicaram suas descobertas na edição atual da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.